sexta-feira, abril 20, 2007

O Acordar dos Fantasmas

Passei a noite a fingir que fechei os olhos. Trouxeste-me para tua casa para fazer o que fizemos já que os teus pais de fim-de-semana na terrinha algures entre Penacova e outra qualquer vila de nome mais ridículo. Nunca imaginei que o tecto do teu quarto tivesse tinta a lascar. Ainda bem que durante a noite não deu para ver. Esse cabelo que penteias com a mão direita para a esquerda do pescoço, um ou outro fio branco e qual branco, para mim reflexos acinzentados, a camisa risquinhas azuis e bege como as calças e os sapatos com berloques não combinam com esta defeituosa cobertura branca. De modo que passei a noite a fingir que fechei os olhos e tenho sono e não pode ser, agora medo de engolir ou com sorte cuspir bocadinhos do teu tecto.

Trouxeste-me é como quem diz, se bati à tua porta eram 3 da manhã porque às 2H45 o teu convite de caracteres no meu telemóvel, e da minha a esta casa são 15 minutos de rua ilícita cheia de homens maus que para minha sorte deviam de estar a dormir. Não imaginavas que jogasse às escondidas sempre que vinhas com beijos. Não percebeste quando da bolsa tirei um preservativo. Era para fazer o que fizemos e com o andar dos ponteiros afinal quem se escondia de quem. Se disse que me doía a culpa não pode ser só minha. Omiti-te que uma vez só por isso praticamente virgem. Dessa única vez não igual a esta noite, onde uma penetração seguida da tua respiração sustida e o preservativo e não eu com o teu orgasmo lá dentro. Se nada disse é por se dizer que, primeiro estranha-se e depois, tu nada. Assim eu encolhida em mim e tu e o teu orgasmo cá fora.

Nem uma palavra tua antes de ires para os sonhos, talvez para que eu soubesse como adormeces só. De noite não dá mesmo para ver as falhas do tecto porque fixei todo o escuro deste quarto. Queria te dizer que afinal o escuro com diferentes tonalidades mas acordaste e nem um gesto teu a acenar-me o chuveiro, talvez para que eu ficasse aqui na cama ouvindo as torneiras a fazer de conta que um despertador agradável.

Aproximas-te do quarto quando fecho os olhos sem fingir para que acredites que dormi e durmo. Nem um toque teu, enquanto dobras camisas em cima do meu corpo. Um medo debaixo das pálpebras que saias de casa, esquecendo-me como quem esquece os lenços de papel, as chaves, eu como uma planta que é preciso regar encontrada por vizinhos. «És tu a planta?». Eu é que decido quando tomo banho, voltando a fingir agora acordar, devagar, percebes-me e piscas-me o olho, mais nada. «Eu sou uma planta?». Queria te pedir que não fosses montar a tenda da tua exposição porque eu com medo que a tenda se desarticule tão rápido como quando nós na cama. Queria sair da cama. Quando estamos vazios os pés têm medo do chão?

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