sábado, setembro 18, 2004

Musa Não Tem Masculino (ou Tomate Não Tem Plural)


A ti, sem porquê


Um dia não sonhei beijos em sapos para tropeçar num príncipe.

(Não foi exactamente assim.)

Uma noite não estava em casa, haviam copos e amigos, muitos ainda não conhecia, alguns estavam entre ele, quais não me lembro mas não esqueci

um beijo

e no dia seguinte

(agora sim, de dia, sábado ou domingo, o café na Marina cheio de sol, uma mesa recheada de raparigas que apontavam com os olhos a cadeira em frente à qual tinhas combinado sentar)

com um riso ao ataque dentro de mim, entregaram-me

um príncipe no sapato

(ténis, estavas de ténis)

e durante um ano e tal, a certeza de que haviam muitos sapos porque não tinha vontade de os beijar. Mas houve um dia em que o príncipe não virou sapo. Continuou príncipe. E ouviu com

- Já não sinto o mesmo

o sorriso a fraquejar

- Porquê?

(ainda assim daqueles sorrisos que quando acordam, dás por ti a sorrir também)

na despedida que ainda hoje faz-me sentir analfabeta, um chumbo de volta à primeira classe com as vogais, quem sabe reconquistar as consoantes

depois

anos depois

- Porquê?

perceber que existem musas e não musos e à falta de inspiração

(queres dizer justificação)

perceber que na primária contam cinco sentidos, não o sentido sem sentido

(queres dizer sentimento)

que ainda hoje

- Porquê?

se soubesse porquê tinhas os meus dedos colados no teu sorriso e não o deixava adormecer. Como num ontem. Ou num hoje. Ainda hoje. Ainda príncipe. Ou fosses sapo.





0 Comments:

Enviar um comentário

<< Home

Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com