Musa Não Tem Masculino (ou Tomate Não Tem Plural)
A ti, sem porquê
Um dia não sonhei beijos em sapos para tropeçar num príncipe.
(Não foi exactamente assim.)
Uma noite não estava em casa, haviam copos e amigos, muitos ainda não conhecia, alguns estavam entre ele, quais não me lembro mas não esqueci
um beijo
e no dia seguinte
(agora sim, de dia, sábado ou domingo, o café na Marina cheio de sol, uma mesa recheada de raparigas que apontavam com os olhos a cadeira em frente à qual tinhas combinado sentar)
com um riso ao ataque dentro de mim, entregaram-me
um príncipe no sapato
(ténis, estavas de ténis)
e durante um ano e tal, a certeza de que haviam muitos sapos porque não tinha vontade de os beijar. Mas houve um dia em que o príncipe não virou sapo. Continuou príncipe. E ouviu com
- Já não sinto o mesmo
o sorriso a fraquejar
- Porquê?
(ainda assim daqueles sorrisos que quando acordam, dás por ti a sorrir também)
na despedida que ainda hoje faz-me sentir analfabeta, um chumbo de volta à primeira classe com as vogais, quem sabe reconquistar as consoantes
depois
anos depois
- Porquê?
perceber que existem musas e não musos e à falta de inspiração
(queres dizer justificação)
perceber que na primária contam cinco sentidos, não o sentido sem sentido
(queres dizer sentimento)
que ainda hoje
- Porquê?
se soubesse porquê tinhas os meus dedos colados no teu sorriso e não o deixava adormecer. Como num ontem. Ou num hoje. Ainda hoje. Ainda príncipe. Ou fosses sapo.
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