domingo, julho 18, 2004

NEU(T)RAS

Apertar uma folha de papel numa urgência do preto no branco
e largar ponto por ponto um rasto de tinta
num rascunho
Esquecer o ponto final quando não há porque ao porquê de
ninguém
e não porque alguém lembra a idade dos porquês
Emudecer até os monossílabos
e articular na ponta da língua cada onomatopeia
para que não derreta no caramelo colado aos dentes
e fixar que nem tudo o que se exprime tem som
Espreguiçar a cabeça o tronco e alma e de seguida
contrair os membros pelo atraso além da falta de espaço
dentro do cavalo de Tróia
Tomar antes do pequeno-almoço uma colher de sopa de
hidromel
Substituir os talheres pelo guardanapo
e prosseguir a limpeza da boca com garfo colher e faca na
refeição do café à entrada
Arrotar um orgasmo após o jantar
no encontro dos anónimos viciados em palavras
Passar das marcas por matar o mártir e logo
depois socorrer rabiscada num pos-it a palavra
amor
das bocas da amargura
Espetar o dedo no teu fundo
e receber o abraço do século
Congelar as lágrimas ao prever um Inverno de seca
Soprar do calendário os dias de luas
e inspirar profundamente a neura do positivo e negativo
e sai da base e nem é ácido
neutra
Trincar a essência de três túlipas
e comparar com a ressaca do dobro em cuba livres
Ouvir de tudo
para ter de aceitar absolutamente nada
nunca
(dizer nunca
repetir nunca
nunca nunca nunca)
Cortar as asas à imaginação
e colar aos ombros com cuspo
Tatuar-se em tinta depois de tirar a virgindade a
uma folha de papel numa urgência.

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