Porquê, "Porquê"
Esta noite, por diversas vezes tive que me confrontar com os ponteiros do relógio de tic, tic, tic metódico, para me aperceber “às quantas ando”. São 4 da manhã. Por vezes, não sei bem como tudo acontece, como começa, desenvolve, e no fundo acabo somente por ter a certeza de um fim. Por vezes tenho que me convencer a mim próprio, como se um outro Eu quisesse seguir caminho diferente: acreditar que é tudo demasiado complicado. Sou um ás em tecer teias de ideias entupindo os hemisférios cerebrais; emaranho situações e confronto-as com “existencialismos”, suposições e imprimo milhões de pontos de interrogação após a palavra “Porquê” – Admito. E é-me mais fácil, bem mais fácil do que admitir que por vezes (muitas vezes) consegue ser simples, se sentido.
Esta tarde sei que não me viste a princípio, sentado à tua frente, apenas ocupando o espaço de uma cadeira na mesa por detrás da tua, onde conversavas com os botões. E não digas que não conversavas porque ao contrário de ti vi-te logo, vi-te de lábios arrepiados e molhados pelos pingos do nariz, como eu a tiritar numa madrugada que se constipa e vi-te os olhos inchados; vermelhos arroxeados, que me fizeram ficar na dúvida se te haviam pregado com dois socos e depois te soprado as pálpebras transformando-as em insufláveis. Lembrei-me do Eu miúdo a soprar a bóia na praia para chapinhar à beira-mar, e no Inverno, o Eu miúdo tornando a enchê-la antes de descobrir cada poça fossilizada pela chuva. Aí, voltei a desconfiar se as pálpebras inchadas não são as nossas bóias, pré-preparadas para flutuarmos na intempérie que de quando em vez, mais cedo ou mais tarde, acaba por declinar de cada olho.
Não tens como negar. Deixaste um rasto de pingos no tampo da mesa. Deixaste o cinzeiro a abarrotar de guardanapos com que limpavas o nariz. Levaste os olhos que já não eram bem olhos: duas pálpebras insufladas cobrindo e cobertas por dois círculos roxos. E no fundo acabo somente por ter a certeza de um fim; que saíste e fingimos não nos vermos, que te deixei sair sem me conheceres, que fiquei pelo desejo das lágrimas e pela inveja das pálpebras enquanto segredavas com os botões.
Por vezes não sei bem como tudo acontece, como te sentaste à minha frente, como começou não conseguir desviar o olhar de ti, porque se desenvolveram essas lágrimas… Esta noite já por diversas vezes, convenci o meu outro Eu de como era demasiado complicado chegar até ti com “olá”, formular um “posso?”, ou (imagina a ideia do meu outro)
“queres um lenço?” Sem dúvida, demasiado complicado para mim; que agora apercebo-me das 4 e 15 da madrugada e escrevo para outros que te vi chorar. Primo teclas sem praticamente as tocar porque quando sentimos, seja do pensamento às palavras ou das palavras ao pensamento, a equação é simples. Quando é verdade não há como contornar. Agora bastaram-me 15 minutos para descrever-te, reler-me e escrever a outros que ao olhares para mim baixei a cabeça chamando-me de estúpido, voltei a chamar-me estúpido, fingi-me de surdo (estúpido, estúpido, estúpido) ao murmúrio que não fizeste apenas para com os botões: como se alguém se importasse.
Até amanhecer ainda tenho que me convencer que nem tudo é tão simples. Fogem-me os dedos pelas teclas e teimam em escrever que o sentido de um sentimento não tem um ponto de interrogação após a palavra “Porquê”. Acabo somente por ter a certeza de um fim; verdade incontornável mas não absoluta – como todas as verdades.
Esta tarde sei que não me viste a princípio, sentado à tua frente, apenas ocupando o espaço de uma cadeira na mesa por detrás da tua, onde conversavas com os botões. E não digas que não conversavas porque ao contrário de ti vi-te logo, vi-te de lábios arrepiados e molhados pelos pingos do nariz, como eu a tiritar numa madrugada que se constipa e vi-te os olhos inchados; vermelhos arroxeados, que me fizeram ficar na dúvida se te haviam pregado com dois socos e depois te soprado as pálpebras transformando-as em insufláveis. Lembrei-me do Eu miúdo a soprar a bóia na praia para chapinhar à beira-mar, e no Inverno, o Eu miúdo tornando a enchê-la antes de descobrir cada poça fossilizada pela chuva. Aí, voltei a desconfiar se as pálpebras inchadas não são as nossas bóias, pré-preparadas para flutuarmos na intempérie que de quando em vez, mais cedo ou mais tarde, acaba por declinar de cada olho.
Não tens como negar. Deixaste um rasto de pingos no tampo da mesa. Deixaste o cinzeiro a abarrotar de guardanapos com que limpavas o nariz. Levaste os olhos que já não eram bem olhos: duas pálpebras insufladas cobrindo e cobertas por dois círculos roxos. E no fundo acabo somente por ter a certeza de um fim; que saíste e fingimos não nos vermos, que te deixei sair sem me conheceres, que fiquei pelo desejo das lágrimas e pela inveja das pálpebras enquanto segredavas com os botões.
Por vezes não sei bem como tudo acontece, como te sentaste à minha frente, como começou não conseguir desviar o olhar de ti, porque se desenvolveram essas lágrimas… Esta noite já por diversas vezes, convenci o meu outro Eu de como era demasiado complicado chegar até ti com “olá”, formular um “posso?”, ou (imagina a ideia do meu outro)
“queres um lenço?” Sem dúvida, demasiado complicado para mim; que agora apercebo-me das 4 e 15 da madrugada e escrevo para outros que te vi chorar. Primo teclas sem praticamente as tocar porque quando sentimos, seja do pensamento às palavras ou das palavras ao pensamento, a equação é simples. Quando é verdade não há como contornar. Agora bastaram-me 15 minutos para descrever-te, reler-me e escrever a outros que ao olhares para mim baixei a cabeça chamando-me de estúpido, voltei a chamar-me estúpido, fingi-me de surdo (estúpido, estúpido, estúpido) ao murmúrio que não fizeste apenas para com os botões: como se alguém se importasse.
Até amanhecer ainda tenho que me convencer que nem tudo é tão simples. Fogem-me os dedos pelas teclas e teimam em escrever que o sentido de um sentimento não tem um ponto de interrogação após a palavra “Porquê”. Acabo somente por ter a certeza de um fim; verdade incontornável mas não absoluta – como todas as verdades.
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