sexta-feira, abril 27, 2007

BOA NOITE, DORME BEM



Que espere o céu sentado e a terra se estiver maçada que tente dormir na vertical. Ando demasiado ocupada a viver e quanto a sonos, nem em cima nem em baixo, prefiro adormecer ao lado da Primavera.

segunda-feira, abril 23, 2007

Sexta-feira, Abril 23, 2004 – Segunda-feira, Abril 23, 2007*

“As emoções são anteriores às palavras e o repto é traduzir essas emoções, tentar que as palavras «signifiquem» essas emoções. É um desafio impossível e aquele que creio que se deve tentar.”

António Lobo Antunes, Conversas com António Lobo Antunes





Hoje faço três anos.

Segunda-feira. Respira-se a ausência de nevoeiro. Como é que se mede a importância de um dia? Nasci, estou nascido. Não se fala mais nisso. Também posso nunca morrer. Vive-se. Mas como contar um ano? Por histórias? Por meses? Contam-se os dias? Trezentos e sessenta e cinco dias. Nenhuns trezentos e sessenta e seis. Cinco. Seis. A importância de um número. A contagem de um dia. Vinte e quatro horas. Armazenam-se horas ou perdem-se dias? Metades de dias em doze horas. Como é que se conta uma vida?
Parto com o dia de hoje, qual cão batedor, que me empurra a entrar no nevoeiro onde nasci. Vejo-a lá. A preto e branco. Percebo que era sexta-feira. Os olhos dela: preto no branco; os dedos: brancos; o click blog: nasci, preto.

Foi como ela mais tarde escreverá:
era rapariga, e só uma rapariga podia fazer-me desejar que morássemos no refúgio de uma segunda-feira.






*Dia Mundial Do Livro E Do Direito De Autor

sexta-feira, abril 20, 2007

O Acordar dos Fantasmas

Passei a noite a fingir que fechei os olhos. Trouxeste-me para tua casa para fazer o que fizemos já que os teus pais de fim-de-semana na terrinha algures entre Penacova e outra qualquer vila de nome mais ridículo. Nunca imaginei que o tecto do teu quarto tivesse tinta a lascar. Ainda bem que durante a noite não deu para ver. Esse cabelo que penteias com a mão direita para a esquerda do pescoço, um ou outro fio branco e qual branco, para mim reflexos acinzentados, a camisa risquinhas azuis e bege como as calças e os sapatos com berloques não combinam com esta defeituosa cobertura branca. De modo que passei a noite a fingir que fechei os olhos e tenho sono e não pode ser, agora medo de engolir ou com sorte cuspir bocadinhos do teu tecto.

Trouxeste-me é como quem diz, se bati à tua porta eram 3 da manhã porque às 2H45 o teu convite de caracteres no meu telemóvel, e da minha a esta casa são 15 minutos de rua ilícita cheia de homens maus que para minha sorte deviam de estar a dormir. Não imaginavas que jogasse às escondidas sempre que vinhas com beijos. Não percebeste quando da bolsa tirei um preservativo. Era para fazer o que fizemos e com o andar dos ponteiros afinal quem se escondia de quem. Se disse que me doía a culpa não pode ser só minha. Omiti-te que uma vez só por isso praticamente virgem. Dessa única vez não igual a esta noite, onde uma penetração seguida da tua respiração sustida e o preservativo e não eu com o teu orgasmo lá dentro. Se nada disse é por se dizer que, primeiro estranha-se e depois, tu nada. Assim eu encolhida em mim e tu e o teu orgasmo cá fora.

Nem uma palavra tua antes de ires para os sonhos, talvez para que eu soubesse como adormeces só. De noite não dá mesmo para ver as falhas do tecto porque fixei todo o escuro deste quarto. Queria te dizer que afinal o escuro com diferentes tonalidades mas acordaste e nem um gesto teu a acenar-me o chuveiro, talvez para que eu ficasse aqui na cama ouvindo as torneiras a fazer de conta que um despertador agradável.

Aproximas-te do quarto quando fecho os olhos sem fingir para que acredites que dormi e durmo. Nem um toque teu, enquanto dobras camisas em cima do meu corpo. Um medo debaixo das pálpebras que saias de casa, esquecendo-me como quem esquece os lenços de papel, as chaves, eu como uma planta que é preciso regar encontrada por vizinhos. «És tu a planta?». Eu é que decido quando tomo banho, voltando a fingir agora acordar, devagar, percebes-me e piscas-me o olho, mais nada. «Eu sou uma planta?». Queria te pedir que não fosses montar a tenda da tua exposição porque eu com medo que a tenda se desarticule tão rápido como quando nós na cama. Queria sair da cama. Quando estamos vazios os pés têm medo do chão?

domingo, abril 15, 2007

A Coisa Das Coisas

(Um Nariz Quase a Tocar nas Nuvens)


De ti, de tudo, talvez, apenas uma coisa me inquiete. Porque é que nunca me deixaste subir para tua casa? Não é bem isso. Mas mesmo quando lá estava ninguém, a cortina recolhida, só a noite à janela do teu quarto, o carro estacionado num lugar que é jackpot às quatro da manhã, mesmo em frente à porta do prédio, eu qual porco espinho todo eriçado de vontade e a tua cabeça para a direita «Nop» e para a esquerda «Nop». Sempre me pareceste insegura em relação a mim. Não gostei nada disso. Nem é esta a questão mas não me soubeste cativar. Com essa insegurança só me afastaste. As coisas não andavam nem deixavam de andar. Realizaste um enredo trágico nessa tua cabeça onde era eu o mordomo da história que é sempre o culpado. E depois rias-te. Cala-te! Irrita-me que rias, não te disse.

Eu estava solteiro. Conheci-te. As coisas são assim, sem inventar. Um simples início, o que por regra é bom. Depois tu estagnaste numa de “olhem-para-mim-que-parece-e-é-mesmo-verdade-que-sou-parva” e “Stop!”: impediste as coisas da sua normalidade de evolução. E depois não é que te rias. O problema nem foi meu. Puro Darwinismo nestas coisas. As coisas são assim, têm mecanismos de sobrevivência. Obviamente a minha reacção não foi a melhor. Também não é que isto me importe. Aliás, digo-te que ficas com a tua que eu fico com a minha, do que foi, Passado. E dizes-me que ficar na tua e eu na minha é uma impossibilidade (o Passado é uma impossibilidade?); queremos e pensamos nas coisas. Que tem ele? Coisas. Que se passa? Coisas dela. Aí, deixam de ser simplesmente coisas de cada um. Não é uma questão de ganhar, a não ser posse, das coisas.

Pois, se calhar. Mas sabes uma coisa. Apenas a coisa. Ficou-me atravessado não ter ido para a cama contigo. Essa direita «Nop» e esquerda «Nop». Sei lá ou até sei: Ficou-me atravessado. Não por dizer que fui ou para seres um troféu. Só mesmo porque acho que nos íamos entender muito bem. Sabes que me ficou atravessado. Enquanto sei que tu ficas satisf…, ia dizer satisfeita, mas nem tanto à satisfação nem tanto à felicidade. Não acredito que possas ser feliz do que foste, «Nop, nop», da repetição «Nop, nop» desse teu martelo na cabeça d’ um gajo: vai mais um prego «Nop» e outro: «nop».

Não foi. Porquê? Achas que ia ser assim tão mau? Deves encarar isso como o Monstrengo a invadir-te as águas. Quando é uma coisa. Uma coisa assim, normal. Toda a gente faz e gosta de fazer. O blá blá dos passarinhos e da semente. Que não tem nada de extraordinário. Que não tem a ver com um tipo de rapariga. Tem a ver com duas pessoas que têm vontade de fazer uma coisa. Porque é bom. Não porque se amam. Dizes-me que tem que ser pelo extraordinário, por não ser na casca que está o vento do corpo. E digo-te extraordinário sim, mas pode ser puramente físico. É disso que estou a falar. É por isso que digo que me ficou atravessado. Não fazes a coisa só porque a outra pessoa mexe contigo. Mas eu só mexia contigo? Estivemos a ver-nos ainda algum tempo. Chegou a um ponto que para mim ou andava para a frente ou fim de capítulo e final do livro. «Nop, nop». Tu demonstraste pouca vontade para avançar. Andavas no vai, não vai. Vai. Não vai. Do qual o sexo ou a falta da coisa foi só uma consequência. E eu quando sinto as pessoas com dúvidas e desconfiadas, porque basicamente estavas desconfiada e não acreditavas que eu era (porque disse era, não sou?) boa pessoa; desinteresso-me. Não estou para estar com uma pessoa que me acha um patife, que só a quero levar para a cama. Foi por isso. N a verdade nem sei porque estou a falar disto. Happy?

domingo, abril 08, 2007

Sunday quiet Sunday

Passado o primeiro minuto já o empregado anotara o pedido de oito chávenas com cafeína. Lançou-me um olhar oblíquo e eu respondi com cara de mau porque não sou abichanado. As namoradas dos meus amigos tinham esquecido as amigas em casa. Aos cinco minutos e meio sentado eu queria ir embora. Chegaram mais dois casais e juntaram-se duas mesas onde éramos apenas dois solteiros. O outro respirava calado mas percebia-se. Com os olhos engolia o bilhar em frente quando os homens se debruçavam na mesa para tacadas numa bola mais difícil. Percebia-se e daí não entendo como o empregado errou.

Alguns amigos chamavam as namoradas numa voz distorcida de professora do Charlie Brown. Assustei-me com o frio nome delas na minha boca como gelo a ser triturado. Depois de casados será assim e pior. Outros amigos contaram histórias com os nomes das namoradas enrolados em saliva rica em mel. Pedi a alguém que me pedisse uma amêndoa amarga bem ácida. O ritual de acasalamento acenava-me duma bandeja em rodopios entre as mesas. Dei dois sorrisos exemplares e uma opinião para evitar que me voltassem a confundir também mudo como o outro. Durante as conversas eu olhava-me nos meus amigos cada vez mais velho e mais patético. Os vidros do bar. O céu e o mar um só escuro.

Horas depois uns foram para casa outros a prolongamento da noite. A minha cama feita cada vez mais perto. Algumas namoradas dos amigos não lhes deram as mãos e meteram-se em carros diferentes. Quando uma namorada minha isto deve ser mais fácil de entender.

Ainda agora cheguei e a satisfação dos tapas sóis da janela do meu quarto fechados. Deito-me aconchegando-me a ti com a mão direita onde queria que estivesses tu. Sem pressa porque afinal amanhã é Domingo de Páscoa. Sunday, quiet Sunday. E não há escuro como o mundo escuro do nosso quarto.
Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com